a morte como conselheira

 



Eu tenho aprendido tanto sobre  a vida com a morte. Escuto a voz da filósofa Lúcia Helena Galvão sussurrar em meu ouvido “tome a morte como conselheira” e cada vez que uma tempestade emocional vem chegando ou então uma frustração que quase sempre tem relação com minha imagem e minha insegurança surge, eu tomo a morte como conselheira e diante dela estar viva é a solução de tudo. Respiro.Agradeço. E só por hoje deixo a tristeza andar do meu lado. Não tenho como celebrar diante de tantas famílias que ficaram sem seus pares. Poder contemplar a vida em novembro de 2021 com perfeita saúde é um milagre, depois que 605 mil morreram no meu país. Vítimas da política genocida que meu país vive. Poderia ter sido eu. Poderia ter sido você. Mas não estamos aqui conectados nessa escrita que permeia a vida agradecendo a morte. Porque se eu me lembrar diariamente que a morte vai me encontrar eu vou ser mais leve, vou ser menos burocrática e mais disponível pro erro. Vou desapegar da minha frustração de ser reconhecida e vou me reconhecer agora mesmo, eu dou créditos máximos  a tudo que faço e já não existem espelhos que não refletem meu ser inteiro. Porque ter a morte como conselheira é agradecer ao próximo erro que me faz mais humana e menos filha da heresia do bem. Aprendi que o bem é quase sempre uma vantagem sobre alguém ingênuo. A morte me ensinou que só quem passou a travessia de ser o todo, entende que só no um, existe pureza. Dois ou mais e todo o coletivo se rende às facilidades de ser o centro do mundo, notado e belo, onde os olhos falam a verdade mas atrás das telas os dedos mentem sobre as reais intenções da alma…..onde  a boca altera o significado e a cultura dança ódio onde não quer aceitar as diferenças. Tomo a morte como conselheira também para ser egoísta e seguir meus desejos, mesmo que eles envolvem vidas animais, relações monogâmicas e o afeto que eu nem mais sinto. Porque a pureza morre junto quando os olhos não sabem desviar da maldade. “pai, afasta de mim esse cálice, por trás do sorriso eu vejo maldade” foi a morte que me ensinou a seguir sempre a lealdade a mim mesma, só eu habito minha pele porque morrer é mais óbvio que viver e aí se permitir ser novo todo dia é só o começo de ressignificar cada morte que a gente vivo participa.



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Degraus - d´eus - transcendentes

Um é perto de infinito.